O discurso do candidato derrotado no domingo inovou: tardou para reconhecer a vitória de Dilma Rousseff e foi, numa hora imprópria, um canto de guerra contra a nova presidenta.
Por José Carlos Ruy (*)
Deselegância e ressentimento – estas foram as marcas da reação tucana à derrota eleitoral do dia de ontem, 31 de outubro. O grande cardeal peessedebista Fernando Henrique Cardoso respondeu aos acenos conciliatórios da nova presidenta Dilma Rousseff dizendo que as “pontes foram queimadas” entre seu partido e o PT. E foi petulante quando, referindo-se aos oito anos do governo Lula, reclamou por não ter sido consultado sobre questões nacionais, numa clara demonstração da pretensão descabida que manteve de monitorar seu sucessor e influir em seu governo!
A mais forte manifestação de deselegância e ressentimento foi dada, no entanto, pelo candidato derrotado José Serra. Ele não seguiu a tradição de reconhecer publicamente a derrota antes do discurso da vencedora – Serra falou, em seu comitê de campanha, em São Paulo, aos escassos correligionários que lá estavam, depois do emocionado e afirmativo discurso de Dilma Rousseff, a quem formalmente desejou no exercício da Presidência a partir do dia 1º de janeiro de 2011.
O discurso de Serra misturou o agradecimento aos que votaram nele, a gratidão à militância tucana, o desapontamento pela derrota e a proclamação da guerra aberta contra o governo de Dilma Rousseff, desmentindo todas as proclamações pela unidade dos brasileiros que os tucanos fizeram durante a campanha eleitoral. Eles levantaram contra Lula, Dilma, e as forças democráticas e populares a acusação falsa de dividirem o país. Mas o discurso de Serra e as reações de outros dirigentes tucanos trouxeram embutidos, eles sim, a cizânia e a pregação de um confronto que extrapola as disputas eleitorais.
Serra tem o direito de alimentar pretensões políticas. Sinalizou isso ao dizer “quis o povo que não fosse agora”, insinuando-se desde já como candidato para 2014. Ou quando se despediu com um “até logo” e não um mero adeus. Um político de seu porte e projeção não poderia fazer diferente.
O que causou estranheza em seu discurso foi o tom bélico e agressivo com que anunciou sua disposição futura. “Nós apenas estamos começando uma luta de verdade” para dar “dar a nossa contribuição ao país, em defesa da pátria, da liberdade e da democracia”, disse. Lembrou Jânio Quadros quando se referiu a “forças terríveis” enfrentadas nos meses “duríssimos” da campanha eleitoral, contra as quais vocês “formaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza e consolidaram um campo político de defesa da liberdade, da democracia e das grandes causas econômicas no Brasil”. E terminou com um “a luta continua”.
Serra demonstra a vontade de comandar uma oposição ao governo de Dilma Rousseff vestida com os mesmos trajes guerreiros usados durante a campanha de mentiras e calúnias da disputa eleitoral. Resta saber se terá meios para isso com a perda de força da direita nesta eleição. O DEM sai profundamente enfraquecido; o PPS com a perspectiva de liquidação enquanto força política independente e anexação a um PSDB rachado de alto a baixo e sem outro nome de expressão nacional além do ex-governador mineiro Aécio Neves, um inimigo íntimo de José Serra.
São partidos cuja força declina a nível nacional e que se acomodam, agora, à uma expressão estadual e mesmo municipal. Nem se diga, como repetem os jornalões neste day after eleitoral, que o PSDB vai governar mais da metade do eleitorado brasileiro, um argumento que serve mais de consolo para a derrota do que para compor um retrato efetivo do comportamento do eleitorado. Primeiro porque são estados onde, mesmo naqueles em que ficou atrás de Serra, Dilma teve expressiva votação. Os estados, aliás, não são feudos ou currais eleitorais controlados por seus dirigentes! Depois, porque nenhum deles será governado por figuras cuja influência extrapole seus limites locais e tenham forte expressão nacional: a direita está carente de figuras desta dimensão.
Além disso, como ficou cristalino ao longo da campanha eleitoral, a direita neoliberal não tem um projeto de nação que possa ostentar abertamente. Seu programa é a surrada ladainha neoliberal, privatizante e antinacional, rejeitada nas urnas depois de infelicitar a nação nos oito anos em que estiveram à frente do governo, com Fernando Henrique Cardoso.
A perspectiva que se abre para a oposição neoliberal é um rearranjo de forças e uma reorganização de suas lideranças. Esta talvez seja outra leitura possível do discurso de Serra – a pretensão de se capacitar para permanecer no comando de uma oposição que ameaça girar no vazio de lideranças nacionais. Não será uma tarefa fácil para José Serra dada a coleção de desafetos que seu estilo reconhecidamente desagregador acumulou mesmo entre aqueles que, no período eleitoral, estiveram a seu lado.
A mais forte manifestação de deselegância e ressentimento foi dada, no entanto, pelo candidato derrotado José Serra. Ele não seguiu a tradição de reconhecer publicamente a derrota antes do discurso da vencedora – Serra falou, em seu comitê de campanha, em São Paulo, aos escassos correligionários que lá estavam, depois do emocionado e afirmativo discurso de Dilma Rousseff, a quem formalmente desejou no exercício da Presidência a partir do dia 1º de janeiro de 2011.
O discurso de Serra misturou o agradecimento aos que votaram nele, a gratidão à militância tucana, o desapontamento pela derrota e a proclamação da guerra aberta contra o governo de Dilma Rousseff, desmentindo todas as proclamações pela unidade dos brasileiros que os tucanos fizeram durante a campanha eleitoral. Eles levantaram contra Lula, Dilma, e as forças democráticas e populares a acusação falsa de dividirem o país. Mas o discurso de Serra e as reações de outros dirigentes tucanos trouxeram embutidos, eles sim, a cizânia e a pregação de um confronto que extrapola as disputas eleitorais.
Serra tem o direito de alimentar pretensões políticas. Sinalizou isso ao dizer “quis o povo que não fosse agora”, insinuando-se desde já como candidato para 2014. Ou quando se despediu com um “até logo” e não um mero adeus. Um político de seu porte e projeção não poderia fazer diferente.
O que causou estranheza em seu discurso foi o tom bélico e agressivo com que anunciou sua disposição futura. “Nós apenas estamos começando uma luta de verdade” para dar “dar a nossa contribuição ao país, em defesa da pátria, da liberdade e da democracia”, disse. Lembrou Jânio Quadros quando se referiu a “forças terríveis” enfrentadas nos meses “duríssimos” da campanha eleitoral, contra as quais vocês “formaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza e consolidaram um campo político de defesa da liberdade, da democracia e das grandes causas econômicas no Brasil”. E terminou com um “a luta continua”.
Serra demonstra a vontade de comandar uma oposição ao governo de Dilma Rousseff vestida com os mesmos trajes guerreiros usados durante a campanha de mentiras e calúnias da disputa eleitoral. Resta saber se terá meios para isso com a perda de força da direita nesta eleição. O DEM sai profundamente enfraquecido; o PPS com a perspectiva de liquidação enquanto força política independente e anexação a um PSDB rachado de alto a baixo e sem outro nome de expressão nacional além do ex-governador mineiro Aécio Neves, um inimigo íntimo de José Serra.
São partidos cuja força declina a nível nacional e que se acomodam, agora, à uma expressão estadual e mesmo municipal. Nem se diga, como repetem os jornalões neste day after eleitoral, que o PSDB vai governar mais da metade do eleitorado brasileiro, um argumento que serve mais de consolo para a derrota do que para compor um retrato efetivo do comportamento do eleitorado. Primeiro porque são estados onde, mesmo naqueles em que ficou atrás de Serra, Dilma teve expressiva votação. Os estados, aliás, não são feudos ou currais eleitorais controlados por seus dirigentes! Depois, porque nenhum deles será governado por figuras cuja influência extrapole seus limites locais e tenham forte expressão nacional: a direita está carente de figuras desta dimensão.
Além disso, como ficou cristalino ao longo da campanha eleitoral, a direita neoliberal não tem um projeto de nação que possa ostentar abertamente. Seu programa é a surrada ladainha neoliberal, privatizante e antinacional, rejeitada nas urnas depois de infelicitar a nação nos oito anos em que estiveram à frente do governo, com Fernando Henrique Cardoso.
A perspectiva que se abre para a oposição neoliberal é um rearranjo de forças e uma reorganização de suas lideranças. Esta talvez seja outra leitura possível do discurso de Serra – a pretensão de se capacitar para permanecer no comando de uma oposição que ameaça girar no vazio de lideranças nacionais. Não será uma tarefa fácil para José Serra dada a coleção de desafetos que seu estilo reconhecidamente desagregador acumulou mesmo entre aqueles que, no período eleitoral, estiveram a seu lado.
(*) Jornalista, membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil, editor do jornal A Classe Operária.
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