por Urariano Mota, do Direto da Redação
A maioria dos brasileiros observou o comportamento agressivo de William Bonner contra a candidata Dilma Roussef no Jornal Nacional. Aquela entrevista mereceria mais o nome de cilada, ou armadilha, se surpresa houvesse no caráter do apresentador. Mas não, se o homem é naquilo que ele faz, o âncora deus-nos-acuda há muito é um ser revelado.
Um breve perfil de William Bonner não deixaria de notar, em primeiro lugar, que ele é um jornalista medíocre. Surpresa? Não, ainda não. Em um meio em que a primeira condição de sucesso é não ter muitas ideias, e, de preferência, nenhuma, Bonner seria medíocre por estar na média. (Na mídia, ele diria.) Depois, de passagem, na sua média mediocridade seria notado e anotado que ele possui uma fidelidade, não a do gênero canino, porque os cães, até mesmo eles, sofrem lapsos de confiança quando atacados pelo vírus da raiva. Bonner é um jornalista de fidelidade maquinal, de obediência automática ao comando do nome Marinho. Surpresa? Não, ainda não. Os astros da Globo mantêm isso como um distintivo, um crachá que atravessa o peito e atinge a própria alma, como um sinete de qualidade.
Então, se tudo nele é médio, por que o seu alto cargo, de editor do Jornal Nacional? Antes que responda, “bem, alguém tinha que ocupar”, poderia responder que ele obedece à lei geral de, para aparecer na tela, o jornalista deve possuir um ar de bom moço, que mantenha aparências de dignidade mesmo quando chancele as maiores canalhices. O rosto simpático e nome de galã de filme B longe estão de um específico, de um caráter, digamos. Ainda que este parágrafo venha a lhe dar um aumento de salário e promoção na empresa Globo, devo dizer: o específico de William Bonner vem da rara condição de que ele é cria, criado e criatura da ilha de edição do Jornal Nacional. Um algo que somente pode viver e sobreviver naquela redoma, um ser que dorme com a sua apresentadora e acorda com a vinheta, a logomarca e a voz de anúncio, “Jornal Nacional !” William Bonner ali não trabalha, ele é, somente é, somente pode ser ali.
Bonner e o Jornal Nacional são uma só e uma mesma coisa. (Nova promoção para o rapaz.) Isso explica por que ele, WB, e JN sejam capazes de coisas inomináveis, sem engulhos, sem trauma ou vinco no rosto. Quem assiste ao Jornal Nacional percebe que o mundo ali vem desmontado entre caras e bocas, em dramatização de telenovelas. Chega-se ao limite do uso de trilhas sonoras, como todos devem lembrar das imagens editadas dos desastres e tragédias de aviões. Planos, tomadas, cortes, luzes, a revolta dos passageiros, a indignação dos parentes…
Lembram? Em cada edição, eram mostrados capítulos de telenovela, como breves documentários, como autênticos momentos-verdade, como um conjunto de imagens espetaculares, fogo, choro, convulsões, desespero, e reconstituições por recursos de computador, que misturados à narração do… repórter …. eram uma aula, uma lição de insuflar emoção nas… reportagens. Lágrimas, choros, prantos, fotos de crianças mortas, de jovens sem vida no vigor dos seus anos, e a culpa toda, insinuada e declarada, era do caos aéreo, e de Lula.
De carniceiro de tragédias, como no acidente da TAM, à última “entrevista” com a candidata Dilma Roussef, quando ele, WB ou JN, submeteu uma pessoa digna a vexames e interrupções o tempo todo, para que ela não falasse, nem completasse um só pensamento, há uma reta inflexível da máquina William Bonner. Assim como ele repetiu de outra maneira, na entrevista com a candidata Marina, ontem, quando fez dela parede para bater no PT, a falar do mensalão, mensalão, mensalão. E, justiça seja feita, a moça da ecologia Natura até que aceitou o ventríloquo e sparring. Ali, ele não era Bonner. Ali era Ali, Kamel. Ali ele não era Bonner, se é que alguma vez tenha sido tal apelido e nome “artístico” antes se chamar Jornal Nacional.
A esta altura, enquanto escrevo este artigo, não sei como será a entrevista com o vendedor de ilusões Serra, logo mais à noite. “Não sei” é modo de dizer. Mas sei, porque bem posso imaginar, que sempre é uma forma de saber, quando imaginamos em cima da experiência observada. O bravo William Bonner, ou o Jornal Nacional, fingirá que pergunta, enquanto Serra fingirá que responde, afetando surpresa. Assim manda a experiência de outras campanhas e edições WB ou JN. Surpresa? Não, mais uma vez não. A diferença é que desta vez, com a liberdade da web, todo o Brasil perceberá a farsa do teatrinho manipulador Jornal Nacional.
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