Dilma Presidenta - Em nome da verdade

segunda-feira, 19 de abril de 2010

domingo, 18 de abril de 2010

Comprovada fraude no Datafolha: plano amostral apresentado ao TSE foi fraudado

Ao registrar sua pesquisa de março no TSE (protocolo 6617/2010) o Datafolha apresentou informações falsas, que não corresponderam à verdade.

Informou à Justiça Eleitoral:

Plano Amostral:

"... Os dados utilizados para definição e seleção da amostra são baseados no IBGE (censo 2000 e estimativas 2009)..."

Não foi isso que foi feito.

A seleção das amostras não foram baseadas em dados do IBGE.

Houve muito maior peso da região sudeste, e especificamente de São Paulo, na seleção das amostras, muito acima de seu peso real, de acordo com dados do IBGE.

Não resta mais qualquer dúvida quanto à falta de legitimidade da pesquisa de março do Datafolha, pois houve fraude entre o plano amostral apresentado e o realizado.

E quanto ao TSE? O que vai fazer com o Datafolha que apresentou uma declaração falsa, ao registrar a pesquisa?


Em tempo:
Para entender os números da fraude, compare na figura ao lado os números dentro da linha vermelha:
Base ponderada = deve ser a proporção de acordo com dados do IBGE
Total Nos.absolutos = amostras selecionadas pelo Datafolha

Fonte: Os Amigos do Presidente Lula

Os BRIC: Pensando o Futuro

Por Luiz Inácio Lula da Silva

O grupo BRIC nasceu há dez anos como uma mera sigla. Identificava um grupo de países que começava a transformar a realidade global.
Essas mudanças começam pelo fato de que, juntos, Brasil, Rússia, Índia e China já contribuem com 15% do PIB mundial. Somos países onde tudo é em grande escala. Representamos quase metade da população mundial, 20% da superfície terrestre e possuímos recursos naturais abundantes.
Somos, sobretudo, nações conscientes de nosso potencial como agentes de renovação. Por isso, os BRIC já não são apenas um conjunto de letras. São uma referência incontornável na tomada das principais decisões internacionais. Estamos unindo esforços e coordenando posições para propor uma discussão mais transparente e democrática dos desafios que defrontam a humanidade como um todo.
É esta a mensagem que o Brasil levará à segunda reunião em nível presidencial dos BRIC, que se realiza, no próximo dia 16 de abril, em Brasília. Apostamos numa articulação diplomática criativa e pragmática. Já demonstramos nosso compromisso com o enfrentamento de desafios globais como os da segurança alimentar e da produção de energia no contexto das ameaças da mudança climática.
Mas o verdadeiro batismo de fogo do grupo ocorreu durante a crise global. A sólida reação dos quatro países à derrocada econômica do mundo desenvolvido abriu alternativas, por distintos caminhos, aos surrados dogmas herdados de ontem.
A recessão global não diminuiu o peso dos BRIC – muito pelo contrário. Propusemos estratégias coletivas para superar a crise e dar aos países em desenvolvimento um peso compatível na agenda internacional.
O colapso dos mercados financeiros é sintomático da falência de paradigmas antes tidos como inquestionáveis. Desabaram as verdades sobre a desregulamentação dos mercados. Ruiu o ideal do Estado mínimo. A flexibilização dos direitos trabalhistas deixou de ser um mantra para combater o desemprego. Quando despencaram todos essas ortodoxias, foi a mão visível do Estado que protegeu o sistema econômico do colapso criado pela mão invisível do mercado.
Enquanto alguns dos principais países deixavam prosperar excessos especulativos, os BRIC promoveram crescimento focado no trabalho e na prudência. No Brasil, nunca perdemos de vista o imperativo de enfrentar a desigualdade social. Como resultado, desde 2003, 20 milhões de brasileiros deixaram a pobreza e ganharam os direitos da cidadania plena.
No G-20 propomos saídas para a crise apoiadas em políticas anticíclicas, regulação dos mercados, combate aos paraísos fiscais e renovação das instituições de Bretton Woods.
Não podemos deixar que os sinais incipientes de recuperação da economia mundial sirvam de pretexto para abandonar os compromissos de reforma dessas organizações. Os membros do BRIC não injetaram quase 100 bilhões de dólares no FMI para que tudo ficasse como antes.
Seguiremos defendendo a democratização do processo multilateral de tomada de decisão. Os países pobres e em desenvolvimento têm o direito de serem ouvidos. Reduzir o fosso que os separa dos países ricos não é só questão de justiça. Disso depende a estabilidade econômica, social e política mundial. É nossa melhor contribuição para a paz.
Os recursos necessários para superar a fome e a pobreza são volumosos, mas modestos quando comparados ao custo de resgatar bancos falidos e instituições financeiras vítimas de sua ganância especulativa. Não adianta oferecer alimentos e caridade, se não ajudarmos os países a realizar seu potencial econômico e agrícola.
Mesmo esses esforços estruturantes serão insuficientes para reverter a insegurança alimentar que aflige centenas de milhões enquanto persistir a distorção do comércio agrícola mundial. Os subsídios abusivos dos países ricos desestimulam a produção local, fomentam a dependência e desviam recursos melhor aplicados em programas de desenvolvimento. Por isso, é inadiável a conclusão da Rodada de Doha.
Em nenhum tema o impasse negociador é tão grave quanto na questão ambiental. Por isso, os BRIC estão empenhados em ajudar a fechar o acordo que faltou em Copenhague. Reduzir os gases de efeito estufa e manter o crescimento robusto nos países em desenvolvimento requer que todos façam sua parte, como vêm demonstrando o BRIC com iniciativas ambiciosas para mitigar suas emissões.
Por isso, os grandes poluidores históricos têm um encargo especial. O equilíbrio que o Protocolo de Quioto estabelece é indispensável para podermos avançar juntos.
O cenário internacional está repleto de antigos problemas, ao mesmo tempo em que despontam novas ameaças. Nem os membros do BRIC nem qualquer outro país têm condições de enfrentá-los isoladamente. O unilateralismo nos levou no passado a impasses, quando não a catástrofes humanas, como a do Iraque.
Dependemos cada vez mais uns dos outros. É imprescindível forjar uma governança global mais representativa e transparente, capaz de inspirar unidade de propósito e revitalizar a vontade coletiva em busca de soluções consensuais. Os BRIC cumprirão com suas responsabilidades nessa caminhada.

Publicado em 16/04/2010 no Jornal O Estado de São Paulo

sexta-feira, 16 de abril de 2010

FHC queria privatizar bancos e estatais de energia

Um memorando de Política Externa elaborado pelo Ministério da Fazenda em 1999, e recentemente obtido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), comprova que o Governo Fernando Henrique Cardoso estudou a privatização de bancos públicos, entre eles o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES, e pretendia também transferir ao setor privado outros ativos na área de geração e transmissão de energia.

No dia 8 de março de 1999, o memorando do Ministério sobre o “ajuste fiscal” que seria realizado pelo Governo FHC destacava que o “programa governamental, apoiado pelo FMI, Banco Mundial, BID, BIS e pela maioria dos países industrializados” teria continuidade com a “redução do papel dos bancos públicos na economia”.

O documento da Fazenda lembrava que “o Banco Meridional, uma instituição federal, foi privatizado em 1998” e anunciava que “em 1999 o sexto maior banco brasileiro, o Banespa, agora sob administração federal, será privatizado”. Além disso, o governo estudava vender instituições públicas como o “Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES”. Eles estariam sujeitados a “possíveis alienações de participações”, com “vendas de componentes estratégicos, transformação em agências de desenvolvimento ou bancos de segunda linha”.

Segundo o memorando, o governo já havia decidido privatizar a administradora de ativos afiliada ao Banco do Brasil (BB/DVTM) e o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) reiterando o compromisso de “acelerar e ampliar o escopo do programa de privatização, que já se configura como um dos mais ambiciosos do mundo”.

O documento anunciava ainda que, em 1999, o Governo FHC pretendia “completar a privatização das companhias federais geradoras de energia” e, em 2000, iniciar “o processo de privatização das redes de transmissão de energia”.

No documento constam detalhes de como seria feito o processo de privatização.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

FENOMENAL: O pensamento de FHC analisado por Millôr Fernandes

LIÇÃO PRIMEIRA

De uma coisa ninguém podia me acusar — de ter perdido meu tempo lendo FhC (superlativo de PhD). Achava meu tempo melhor aproveitado lendo o Almanaque da Saúde da Mulher. Mas quando o homem se tornou vosso Presidente, achei que devia ler o Mein Kampf (Minha Luta, em tradução literal) dele, quando lutava bravamente, no Chile, em sua Mercedes (“A mais linda Mercedes azul que vi na minha vida”, segundo o companheiro Weffort, na tevê, quando ainda não sabia que ia ser Ministro), e nós ficávamos aqui, numa boa, papeando descontraidamente com a amável rapaziada do Dops-DOI-CODI.

Quando, afinal, arranjei o tal Opus Magno — Dependência e Desenvolvimento na América Latina — tive que dar a mão à palmatória. O livro é muito melhor do que eu esperava. De deixar o imortal Sir Ney morrer de inveja. Sem qualquerpartipri, e sem poder supervalorizar a obra, transcrevo um trecho, apanhado no mais absoluto acaso, para que os leitores babem por si:

“É evidente que a explicação técnica das estruturas de dominação, no caso dos países latino-americanos, implica estabelecer conexões que se dão entre os determinantes internos e externos, mas essas vinculações, em que qualquer hipótese, não devem ser entendidas em termos de uma relação “casual-analítica”, nem muito menos em termos de uma determinação mecânica e imediata do interno pelo externo. Precisamente o conceito de dependência, que mais adiante será examinado, pretende outorgar significado a uma série de fatos e situações que aparecem conjuntamente em um momento dado e busca-se estabelecer, por seu intermédio, as relações que tornam inteligíveis as situações empíricas em função do modo de conexão entre os componentes estruturais internos e externos. Mas o externo, nessa perspectiva, expressa-se também como um modo particular de relação entre grupos e classes sociais de âmbito das nações subdesenvolvidas. É precisamente por isso que tem validez centrar a análise de dependência em sua manifestação interna, posto que o conceito de dependência utiliza-se como um tipo específico de “causal-significante’ — implicações determinadas por um modo de relação historicamente dado e não como conceito meramente “mecânico-causal”, que enfatiza a determinação externa, anterior, que posteriormente produziria ‘conseqüências internas’.”

Concurso – E-mail:

Qualquer leitor que conseguir sintetizar, em duas ou três linhas (210 toques), o que o ociólogo preferido por 9 entre 10 estrelas da ociologia da Sorbonne quis dizer com isso, ganhará um exemplar do outro clássico, já comentado na primeira parte desta obra: Brejal dos Guajas — de José Sarney.

LIÇÃO SEGUNDA

Como sei que todos os leitores ficaram flabbergasted (não sabem o que quer dizer? Dumbfounded, pô!) com a Lição primeira sobre Dependência e Desenvolvimento da América Latina, boto aqui outro trecho — também escolhidoabsolutamente ao acaso — do Opus Magno de gênio da “profilática hermenêutica consubstancial da infra-estrutura casuística”, perdão, pegou-me o estilo. Se não acreditam que o trecho foi escolhido ao acaso, leiam o livro todo. Vão ver o que é bom!

Estrutura e Processo: Determinações Recíprocas

“Para a análise global do desenvolvimento não é suficiente, entretanto, agregar ao conhecimento das condicionantes estruturais a compreensão dos ‘fatores sociais’, entendidos estes como novas variáveis de tipo estrutural. Para adquirir significação, tal análise requer um duplo esforço de redefinição de perspectivas: por um lado, considerar em sua totalidade as ‘condições históricas particulares’ — econômicas e sociais — subjacentes aos processos de desenvolvimento no plano nacional e no plano externo; por outro, compreender, nas situações estruturais dadas, os objetivos e interesses que dão sentido, orientam ou animam o conflito entre os grupos e classes e os movimentos sociais que ‘põem em marcha’ nas sociedades em desenvolvimento. Requer-se, portanto, e isso é fundamental, uma perspectiva que, ao realçar as mencionadas condições concretas — que são de caráter estrutural — e ao destacar os móveis dos movimentos sociais — objetivos, valores, ideologias —, analise aquelas e estes em suas relações e determinações recíprocas. (…) Isso supõe que a análise ultrapasse a abordagem que se pode chamar de enfoque estrutural, reintegrando-a em uma interpretação feita em termos de ‘processo histórico’ (1). Tal interpretação não significa aceitar o ponto de vista ingênuo, que assinala a importância da seqüência temporal para a explicação científica — origem e desenvolvimento de cada situação social — mas que o devir histórico só se explica por categorias que atribuam significação aos fatos e que, em conseqüência, sejam historicamente referidas.
(1) Ver, especialmente, W. W. Rostow, The Stages of Economic Growth, A Non-Communist Manifest, Cambridge, Cambridge University Press, 1962; Wilbert Moore, Economy and Society, Nova York, Doubleday Co., 1955; Kerr, Dunlop e outros, Industrialism and Industrial Man, Londres, Heinemann, 1962.”

Comentário do Millôr, intimidado:

A todo momento, conhecendo nossa precária capacitação para entender o objetivo e desenvolvimento do seu, de qualquer forma, inalcançável saber, o professor FhC faz uma nota de pata de página. Só uma objeçãozinha, professor. Comprei o seu livro para que o senhor me explicasse sociologia. Se não entendo o que diz, em português tão cristalino, como me remete a esses livros todos? Em inglês! Que o senhor não informa onde estão, como encontrar. E outra coisa, professor, paguei uma nota preta pelo seu tratado, sou um estudante pobre, não tenho mais dinheiro. Além do que, confesso com vergonha, não sei inglês. Olha, não vá se ofender, me dá até a impressão, sem qualquer malícia, que o senhor imita um velho amigo meu, padre que servia na Paróquia de Vigário-Geral, no Rio. Sábio, ele achava inútil tentar explicar melhor os altos desígnios de Deus pra plebe ignara do pequeno burgo e ensinava usando parábolas, epístolas, salmos e encíclicas. E me dizia: “Millôr, meu filho, em Roma, eu como os romanos. Sendo vigário em Vigário-Geral, tenho que ensinar com vigarice”.

LIÇÃO TERCEIRA

Há vezes, e não são poucas, em que FhC atinge níveis insuperáveis. Vejam, pra terminar esta pequena explanação, este pequeno trecho ainda escolhido ao acaso. Eu sei, eu sei — os defensores de FhC, a máfia de beca, dirão que o acaso está contra ele. Mas leiam:

“É oportuno assinalar aqui que a influência dos livros como o de Talcot Parsons, The Social System, Glencoe, The Free Press, 1951, ou o de Roberto K. Merton, Social Theory and Social Structure, Glencoe, The Free press, 1949, desempenharam um papel decisivo na formulação desse tipo de análise do desenvolvimento. Em outros autores enfatizaram-se mais os aspectos psicossociais da passagem do tradicionalismo para o modernismo, como em Everett Hagen, On the Theory of Social Change, Homewood, Dorsey Press, 1962, e David MacClelland, The Achieving Society, Princeton, Van Nostrand, 1961. Por outro lado, Daniel Lemer, em The Passing of Traditional Society: Modernizing the Middle East, Glencoe, The Free Press, 1958, formulou em termos mais gerais, isto é, não especificamente orientados para o problema do desenvolvimento, o enfoque do tradicionalismo e do modernismo como análise dos processos de mudança social”.

Amigos, não é genial? Vou até repetir pra vocês gozarem (no bom sentido) melhor: “formulou (em termos mais gerais, isto é, não especificamente orientados para o problema do desenvolvimento) o enfoque (do tradicionalismo e do modernismo) como análise (dos processos de mudança social)”.

Formulou o enfoque como análise!
É demais! É demais! E sei que o vosso sábio governando, nosso FhC, espécie de Sarney barroco-rococó, poderia ir ainda mais longe.
Poderia analisar a fórmula como enfoque.
Ou enfocar a análise como fórmula.
É evidente que só não o fez em respeito à simplicidade de estilo.
Tópico avulso sobre imodéstia e pequenos disparates do eremita preferido dos Mamonas Assassinas.
Vaidade todos vocês têm, não é mesmo? Mas há vaidades doentias, como as das pessoas capazes de acordar às três da manhã para falar dois minutos num programa de tevê visto por exatamente mais ou menos ninguém. Há vaidades patológicas, como as de Madonas e Reis do Roque, só possíveis em sociedades que criaram multidões patológicas.

Mas há vaidades indescritíveis. Vaidade em estado puro, sem retoque nem disfarce, tão vaidade que o vaidoso nem percebe que tem, pois tudo que infla sua vaidade é para ele coisa absolutamente natural. Quem é supremamente vaidoso, se acha sempre supremamente modesto. Esse ser existe materializado em FhC (superlativo de PhD). Um umbigo delirante.
O que me impressiona é que esse homem, que escreve mal — se aquilo é escrever bem o meu poodle é bicicleta — e fala pessimamente — seu falar é absolutamente vazio, as frases se contradizem entre si, quando uma frase não se contradiz nela mesma, é considerado o maior sociólogo brasileiro.

Nunca vi nada que ele fizesse (Dependência e Desenvolvimento na América Latina, livro que o elevou à glória, é apenas um Brejal dos Guajas, mais acadêmico) e dissesse que não fosse tolice primária. “Também tenho um pé na cozinha”, “(os brasileiros) são todos caipiras”, “(os aposentados) são uns vagabundos”, “(o Congresso) precisa de uma assepsia”, “Ser rico é muito chato”, “Todos os trabalhadores deviam fazer checape”, “Não vou transformar isso (a moratória de Itamar) num fato político”. “Isso (a violência, chamada de Poder Paralelo) é uma anomia”. E por aí vai. Pra não lembrar o vergonhoso passado, quando sentou na cadeira da prefeitura de São Paulo, antes de ser derrotado por Jânio Quadros, segundo ele “um fantasma que não mete mais medo a ninguém”.

Eleito prefeito, no dia seguinte Jânio Quadros desinfetou a cadeira com uma bomba de Flit.
E, sempre que aproxima mais o país do abismo no qual, segundo a retórica política, o Brasil vive, esse FhC (superlativo de PhD) corre à televisão e deita a fala do trono, com a convicção de que, mais do que nunca, foi ele, the king of the black sweetmeat made of coconuts (o rei da cocada preta), quem conduziu o Brasil à salvação definitiva e à glória eterna. E que todos querem ouvi-lo mais uma vez no Hosana e na Aleluia. Haja!

Millôr Fernandes

terça-feira, 6 de abril de 2010

Eleições 2010 na Web: Começam as práticas deploráveis

Pelo que se desenha, antes mesmo de começar, a campanha eleitoral deste ano irá derrubar velhos conceitos sobre como fazer uma campanha política na Internet. De acordo com matéria do jornalista Luiz Queiroz, do site Convergência Digital (05/04) - “o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) postou mensagem no Twitter, informando que uma empresa de informática estaria registrando domínios na Internet com objetivo de criar sites com o intuito específico de atacar a candidatura presidencial da ex-ministra Dilma Rousseff (PT).”

Pelo apurado a empresa é detentora de um domínio criado para realçar as qualidades do candidato do PSDB na Internet (www.amigosdoserra.com.br), o que supostamente a vincula com a candidatura tucana. A empresa também registrou dois outros endereços eletrônicos, deixando clara a intenção de atacar a imagem da candidata do PT à Presidência da República. O mais grave, foi ter supostamente usado CNPJs diferentes nos registros de domínios. Os CNPJs pesquisados no site da Receita Federal aparecem como "inexistentes". A DDM também atende pelo nome "Duo Database Marketing Serviços e Sistemas Ltda" e seu endereço eletrônico é www.ddm.com.br. O curioso é que tanto os seus CNPJs, quanto os endereços comerciais deixam margem para dúvidas sobre suas existências por serem imprecisos e/ou incorretos. Estão registrados no nome da empresa os seguintes domínios na Internet: - amigosdoserra.com.br- dilmanao.com.br - gentequemente.com.br - joseserraoficial.com.br - jotaserra.com.br - jozeserra.com.br - jserra.com.br.

CNPJs e telefones inválidos – por que e para quê?
Na Receita Federal, quando pesquisado o CNPJ da empresa DDM (05/04) usado junto ao Registro.br - do Comitê Gestor da Internet do Brasil - (n° 066.514.423/0001-38) ele foi apontado como inexistente. Hoje à tarde ele aparece como válido. (Aliás, o Comitê Gestor da Internet deveria ter um software que rejeitasse CNPJs falsos – é a máxima da casa de ferreiro espeto de pau). Também com CNPJs inexistentes, a DDM teria registrado os domínios: "www.dilmanao.com.br" – "www.gentequemente.com.br" e "www.amigosdoserra.com.br"; com o CNPJ n°000.660.111/0001-24, inválido até ontem (05/04), hoje à tarde aparece como CNPJ válido. O telefone para contato com a empresa também chama a atenção: (11 - 11111111). Além disso, a empresa informa dois endereços comerciais diferentes.

Mas não é só a empresa DDM que está atrás de confusão. O Instituto Social Democrata (do PSDB), também mantém um domínio na web que, servirá para atacar diretamente aos adversários ao longo da campanha (www.petralhas.com.br). O candidato José Serra conta ainda com o endereço eletrônico www.serra45.com.br, que foi registrado diretamente pelo PSDB. Além disso, o Instituto mantém registrados os seguintes domínios: - blogdojoseserra.com.br - blogdoserra.com.br - eagora.blog.br - jose-sera.com.br - jose-sera45.com.br - josesera.com.br - josesera2010.com.br - josesera45.com.br - joseserra.blog.br - joseserra2010.com.br - petralhas.com.br - serra2010.com.br - sitedojoseserra.com.br - sitedoserra.com.br.

O segredo não é mais secreto...
Outra estratégia adotada por partidos políticos na web é enviar emails com notícias falsas a respeito da vida de candidatos e seus familiares. Tais emails são imediatamente repassados sem nenhuma análise crítica. O fato é que tais sites serviriam para disseminar de forma anônima fatos e ataques em vez de discutir propostas. Este tipo de estratégia funcionou quando a Web era 1.0 e seus usuários meros consumidores de informação sem espírito crítico. Hoje tais estratégias ou abordagens só ajudam a promover o candidato contrário, pois mostra que, longe de discutir propostas, o que pode vir a pegar mesmo serão acusações sem o mínimo de provas.

O fato é que, se isso era uma estratégia para ser mantida em segredo, agora não é mais e ganha notória desconfiança dos propósitos de determinadas candidaturas quando se apresentam na web. É por causa deste tipo de gente – ‘profissionais’ – que aparecem certos senadores querendo amordaçar a Internet. Mas nós estamos de olho e na Web-Livre ninguém mexe. Não sem que a gente faça um barulho muito grande.

Que as eleições deste ano na Internet sejam uma festa democrática da liberdade de expressão e não um festim diabólico onde a libertinagem deixa de ser a exceção. Em política, principalmente, segredo só existe entre duas pessoas quando uma delas morreu. Estamos de olho. A empresa de informática DDM Desenvolvimento de Software S/S Ltda tem, de fato, muitas explicações a dar sobre algumas curiosidades levantadas pelo portal ‘Convergência Digital’.

Fonte: Convergência Digital
WM

Paixão conservadora pelo obscurantismo

Por Washington Araújo(*)

Jornais e revistas de grande circulação, redes de TV e rádio com os maiores índices de audiência continuam se alinhando com as forças do atraso, mesmo em seu momento de maior refluxo. Em um tempo em que o mercado demonstra ser incapaz de prover solução aos graves problemas que afligem a maior parte da população, esses veículos parecem inteiramente desnorteados ao ver seu prestígio, poder de influência e capacidade de influenciar opiniões em franco declínio.

Se há dez ou quinze anos um escândalo tinha sempre sobrevida para freqüentar as capas das revistas semanais, primeiras páginas dos jornalões e lugar de destaque na escalada dos maiores telejornais da noite, hoje os escândalos têm vida curta, começam como pequenas ondas e, como elas, terminam sem nunca alcançarem o apogeu. Acontece que escândalos fabricados nascem com prazo de validade vencido. E se conseguem repercutir por três dias, uma ou duas semanas, já é um feito e tanto. O expediente, de tão usado, perdeu o impacto; as pessoas comuns torcem a boca, esboçam sorriso maroto e nem se dão mais ao trabalho de acompanhar a história.

Tema vital

O conservadorismo mostra sua cara quando insiste em menosprezar a legitimidade de, por exemplo, o Bolsa Família. E o rotula como Bolsa Esmola, Bolsa Mendicância e Bolsa Vagabundagem. E apresenta-se de corpo inteiro quando rechaça políticas de ação afirmativa como a de garantir aos afrodescendentes, aos índios, aos ciganos, facilidades para o acesso à educação universitária.

Como muitos medicamentos, o conservadorismo tem como princípio ativo o olhar de soberba, de cima para baixo, a não aceitação que o pessoal do andar de baixo tem os mesmos direitos que os do andar de cima, que a lei é soberana para todos e que a esta todos devem se submeter. O conservadorismo chega a ser um estilo de vida, uma forma de lutar contra qualquer forma de inclusão, seja social, cultural, digital.

A mídia potencializa o conservadorismo quando criminaliza movimentos sociais e interdita o debate sobre liberdade de expressão criando cortinas de fumaça em torno do que deseja, realmente, preservar. E o que ela anseia com todas as suas forças e meios nada mais é que perpetuar a concentração da propriedade dos meios de comunicação, mantendo como cláusula pétrea de sua atividade a compreensão de que, ao contrário do que reza a Constituição federal, não compete ao Estado lançar seus olhos sobre os meios de comunicação que atuam no segmento do rádio e da televisão.

Em outras palavras, pode-se afirmar que qualquer mudança no modus operandi do Estado em relação a este tema vital para a sociedade seria visto como crime de lesa-pátria. Há que se manter aquele conceito de propriedade vigente por tanto tempo à época do Brasil Colônia – o das sesmarias.

Interesses ocultos

Não podemos esquecer que a grande mídia sente uma atração fatal pelas forças do atraso, pelo endeusamento do mercado, pela negligência dos direitos dos oprimidos. No caso do Brasil, estou bem convencido que a grande mídia brasileira é...

** ... a mesma mídia que foi contra o governo de Getúlio Vargas e seu projeto nacionalista e popular, levando-o ao suicídio;

**... a mesma mídia que se posicionou fortemente contra o governo de Juscelino Kubitschek;

**... a mesma mídia que apoiou o golpe militar de 1964;

**... a mesma mídia que apoiou a ditadura (e hoje tenta reescrever a história dizendo que foi contra a ditadura ou ocultando que lhe foi favorável);

**... a mesma mídia que abafou a inspiradora campanha das "Diretas já!", engolfando o Brasil de norte a sul;

**... a mesma mídia que na eleição de 1989 tentou convencer a população que o Lula e o PT eram responsáveis pelo seqüestro do empresário Abílio Diniz;

**... a mesma mídia que apoiou Fernando Collor e editou o debate final naquela eleição em favor dele;

**... a mesma mídia que abafou a crise econômica e o fato de que o Brasil estava quebrado durante a eleição de 1998, favorecendo decisivamente a reeleição do presidente;

**... a mesma mídia que publicou ficha apócrifa de Dilma Rousseff como se fosse original dos arquivos da ditadura;

**... a mesma mídia que assacou de forma impiedosa contra a honra e os valores morais do presidente da República no sórdido episódio protagonizado por Cesar Benjamin;

**... a mesma mídia que boicotou solenemente (e desmereceu) a 1ª Conferência Nacional da Comunicação, e que apoiou de maneira irrestrita e apaixonada o 1º Fórum Democracia & Liberdade de Expressão, patrocinado por seu Instituto Millenium;

**... a mesma mídia que se aproveita da liberdade democrática para servir a interesses ocultos, geralmente manipulando as informações e o conhecimento, visando produzir apenas indivíduos dotados de opiniões, não de conhecimento, nem de sabedoria.

Estrago irremediável

O debate que interessa às massas da humanidade mudou de eixo há mais de 20 anos. Enquanto corpos editoriais foram conservados no formol do falso intelectualismo, o mundo girou e a Lusitana – aquela famosa empresa carioca de mudanças – rodou muito. Só a mídia não viu. Ou não quis ver. Ou se fez de rogada.

O leitor escolhe a situação. A grande imprensa divulgou o momento mesmo em que foi derrubado o muro de Berlim, mas não captou o evento em sua inteireza, em sua magnitude. Com a queda do reboco do infausto muro o mundo se libertou da opressão ideológica e mesmo que o capitalismo tenha se autodeclarado vencedor, a verdade é que não houve vencedores, apenas vencidos. Há muito que o capitalismo deixou de prover soluções duradouras para a manutenção da paz no mundo, há muito que o sistema renunciou à missão de saciar a fome que aprisiona 2/3 da espécie humana, há muito que se esvaziou o papel da Organização das Nações Unidas como símbolo de equilíbrio da ordem mundial.

Nada disso foi manchete porque nada disso foi notícia para um jornalismo ávido por sensação e alheio a percepções; para uma mídia ciosa por manter seu próprio muro de Berlim, tão bem simbolizado por seu extremo partidarismo, por sua cruel parcialidade na hora de decidir o que pode e o que não pode ser tratado como notícia.

Essa mídia, que tantas vezes avocou para si a missão de tribunal plenipotenciário e que deveria ter por obrigação informar a população, assume a missão de julgar e condenar desafetos políticos, lançando na fogueira da cobertura jornalística precária e tendenciosa pessoas que deram o melhor de si para construir um país mais justo. Do mesmo jeito como atuaram no escabroso caso da Escola de Base, em São Paulo. Ali tudo teve início, é bom recordar, para não esquecermos do quão abusiva pode ser a mídia, quando "duas mães de alunos dessa escola deram queixa na delegacia de que seus filhos de quatro e cinco anos estariam sendo molestados sexualmente na escola, e talvez, levados numa Kombi para orgias num motel, onde seriam fotografados e filmados". O delegado de plantão, não apenas acolheu a denúncia como teve a iniciativa de alardear junto à imprensa o teor da denúncia demolidora, antecipando uma condenação dos donos da Escola Base, Maria Aparecida Shimada e seu marido, Icushiro Shimada.

Resumo da história: só no final do inquérito, dez anos depois, os proprietários foram declarados inocentes.

Neste caso específico com exceção do jornal Diário Popular, fizeram parte da onda acusatória contra os proprietários e funcionários da Escola Base a Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, SBT, TV Globo, Veja, TV Record, Rádio e TV Bandeirantes e IstoÉ. Escrevendo sobre o caso, o psicanalista Raimundo de Lima destacou que "as indenizações obtidas por danos psicológicos, morais e materiais não conseguirão reverter o que eles perderam de saúde, de dignidade, de imagem pessoal e profissional limpa perante a sociedade. Não conseguirão reaproximar casais, pais e filhos e amigos, todos afastados pela contaminação do veneno da delação e da acusação vazia".

Lições de Reich

A execração pública dos proprietários da Escola Base foi um dos episódios mais perversos protagonizados pela grande imprensa brasileira. O caso mostrou à larga quão insidiosa pode ser a imprensa quando descuida de seu dever básico – a busca da verdade. Guardando-se as proporções, o sofrimento causado aos donos da Escola Base guarda paralelos com aquele sofrido pelo capitão Alfred Dreyffus, na França, no limiar do século 19. Neste episódio as honras da justiça foram feitas por um cidadão extraordinário, o escritor Émile Zola. A ele, tão somente, coube a missão de reconstruir os pilares da justiça e seu libelo "J´Accuse!" (Eu acuso!) é uma das mais instigantes peças jamais escritas em defesa da justiça e da liberdade humana. Conta-se que, ao insurgir-se contra a imprensa francesa e contra as forças armadas da França, Zola dedicou o melhor dos seus talentos, seu tempo, suas finanças, sua saúde. E é fato que enquanto na fria madrugada parisiense uma luz bruxuleava (sempre quis usar esta palavra!) no andar térreo da casa do notável escritor, isso era sinal de que a consciência da França estava acesa.

Deixemos São Paulo e Paris de lado e voltemos ao tema. Pois bem, não se trata de ser de direita ou de esquerda porque essa discussão há muito passou a se assemelhar àquelas infindáveis discussões para saber qual era o sexo dos anjos. O debate atual – e aquele que realmente importa – é o existente entre os que têm (educação superior, cargos, títulos, riqueza) e os que não têm (saneamento básico, educação formal, emprego). Neste debate o papel da imprensa é crucial. Porque precisamos tratar mais do mundo que queremos do que do mundo que temos. Pensar hoje nas gerações futuras. Mas como fazer isso se, lamentavelmente, sabemos quão conservadora é a nossa grande imprensa, quão imediatista, quão dissociada da defesa dos valores humanos ela vem se mostrando?

O austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), considerado gênio por alguns e louco por outros, foi o maior revolucionário da Psicologia do século 20. Pioneiro da revolução sexual, precursor dos movimentos ecológicos e da psiquiatria biossocial, Reich desenvolveu também artefatos usados na cura do câncer e na diminuição dos efeitos negativos da energia nuclear. É dele uma frase que tem me incendiado a imaginação sempre que me ponho a pensar sobre a mídia que temos e aquela que gostaríamos de ter. Eis a frase:

"Cada ato mesquinho nosso faz retroceder mil passos qualquer esperança que possa restar quanto ao nosso futuro".

(*) Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
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